sexta-feira, 28 de novembro de 2008

VM

Em algum lugar

Deve existir
Eu sei que deve existir
Algum lugar onde o amor
Possa viver a sua vida em paz
E esquecido de que existe o amor
Ser feliz, ser feliz, bem feliz

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Saudade, palavra simples

Fico feliz por pensar em português
porque consigo achar mais facilmente
uma palavra para esse sentimento difícil.

Tenho saudade do seu abraço
e do som do seu sorriso

Tenho saudade da tua pele morena
e dos teus olhos bonitos

Tenho saudade dos seus bilhetes
e de ouvir seus sonhos de menina

E principalmente,
tenho saudade das conversas que ainda teremos juntos
e por isso me sinto feliz.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Uma fronteira a menos

Participar do festival Perro Loco foi uma das experiências mais incríveis que tive nos últimos tempos... Simplesmente porque atravessei um bocado de fronteiras que existiam ao meu redor. E não só fronteiras que remetem ao tema do festival – as distâncias físicas e culturais entre os países da América Latina.

As fronteiras que consegui derrubar são as fronteiras da falta de diálogo ou tempo, de participar de um projeto durante um ano todo com um monte de pessoas que eu nunca havia sequer trocado três frases inteiras... Durante o festival, com o tempo a mais – que é quando quantidade de tempo é mais importante que qualidade de tempo – descobri pessoas maravilhosas que estavam ali antes, o tempo todo, mas que estavam separadas de mim por uma grande e invisível barreira.

Tudo o que aconteceu no festival me deixou um pouquinho mais animado para o que me espera pela frente – se for pra trabalhar rodeado de pessoas legais, melhor ainda! E eu continuo com essa mania de querer tempo pra conversar com os outros, de agendar conversaciones. O Diego é minha próxima vítima. Mas ele tá enrolando... Vamo lá, cara, não tem nada melhor que ficar jogando conversa fora na praça Cívica...

PS.: uma das melhores trocas de idéias que tive nesse Perro Loco foi com a Patrícia, da Argentina... Falando um portunhol bem improvisado, ou quase um dialeto próprio, descobri que lá eles curtem muito uma música que desconhecem ser uma versão de um tal saudoso cantor brasileiro... Taí o vídeo!

Calvin and Hobbes

domingo, 9 de novembro de 2008

A trilha louca do poeta

O amor é o prazer mais egoísta. Ela me diz para não pensar em como as coisas poderiam ser, mas em como todas as coisas foram e serão. Este é seu conselho, de tudo ainda restou você, nostálgico de um passado que não aconteceu. Nada jamais existiu senão a crença de um sentimento jogado fora. Toda aquela dor era uma leitura errada da verdade.

Vai doer mesmo. Todas as coisas serão chatas, tudo vai soltar um cheiro forte de merda ou vômito. Essa dor é suja, é quase mortal num buraco qualquer. Você agora ouve o mundo com uns ruídos vermelhos que incomodam e sangram, mas isso também é necessário. Todo o sofrimento do mundo ainda é pouco. Precisa-se de mais um tanto, para acabar de diluir tudo num choro raso baixinho que se escuta por aí.

Chegará um dia em que você simplesmente não sentirá mais isso e quase sem perceber vai tomar o café como costumava fazer antes, como se nada nunca tivesse deslocado a atenção das coisas, como se o mundo inteiro fosse dormir e você acordar. E esse gosto amargo você não vai mais esquecer: café sem açúcar, que quando acaba a gente pensa que nunca existiu.

domingo, 2 de novembro de 2008

blindness

“Chegara mesmo ao ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era, afinal, senão a simples ausência da luz, que o que chamamos cegueira era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os intactos por trás do seu véu negro.”

José Saramago, Ensaio sobre a cegueira


Ensaio sobre a Cegueira, o filme, não consegue capturar permanentemente a angústia e o asco presentes a todo o momento no livro de José Saramago. Mas a obra de Fernando Meirelles tem muitas cenas que te deixam com vontade de fechar os olhos e não enxergar mais nada pela frente. Aqui, a cegueira tem uma cor branca, mas assim como no livro, é a sujeira, a barbárie e a guerra que predominam.

A fantasia de Saramago questiona como uma cegueira que se alastra de forma tão rápida e atinge cada vez mais pessoas é capaz de anular, imediatamente, qualquer retrospecto de civilidade e respeito. Um grupo de pessoas que não sabe que alguém entre eles ainda pode ver esquece qualquer moral por causa da luta pela sobrevivência. Mas até que ponto vale a pena sobreviver nesse inferno?

Ensaio sobre a Cegueira desconstrói um ditado popular que até então, antes da imaginação mirabolante de Saramago, parecia fazer todo sentido. “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, depois do livro ou do filme, soa como mentira. No meio de cegos, quem tem um olho se torna um escravo – e pior que isso, enxerga coisas que fazem qualquer um desejar perder a visão.

Por isso mesmo, a personagem de Julianne Moore parece achar que ainda que todas aquelas pessoas recuperem a visão, estarão manchadas para sempre pela nódoa da cegueira ética, porque agiram como se o fato de não ver justificasse qualquer coisa, inclusive se comportar como zumbis sem perspectiva. E ao mesmo tempo, o fato de não ver realmente explica tudo, porque a escuridão é quase como um estado natural do animal humano.