segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Agora e depois

Duas das mais belas metáforas que já escutei têm relação com o tempo e a noção humana de passado, presente e futuro. Belchior escreveu, em Velha roupa colorida, canção magistralmente eternizada por Elis Regina, o seguinte verso: “o passado é uma roupa que não nos serve mais”. E Toquinho canta na versão em português de Aquarela: “o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, / Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar”.

Tenho pensado muito nessas duas músicas ultimamente, muito por causa da reflexão provocada pelo filme O Curioso Caso de Benjamin Button. No filme, Brad Pitt interpreta o personagem que, sem explicação científica, nasce com o peso da idade nos ombros, sofrendo de catarata e artrose, e milagrosamente vai rejuvenescendo com o passar dos anos. Por causa dessa peculiaridade, ele vê o tempo de todos à sua volta correr na direção contrária de seu desenvolvimento e acaba por tomar outra noção da morte e da possibilidade de perder seus entes queridos.

A possibilidade de um relógio ao contrário é capaz de atiçar o desejo louco de todo ser humano regressar. Porque a todo momento estamos com saudade de nosso passado, de nossa aparência anterior, de nosso corpo jovial, de nossas experiências juvenis. Não conseguimos frear o tempo, e isso é tão frustrante como não poder voar ou teleportar – outros velhos sonhos inalcançáveis da humanidade.

Ao mesmo tempo, temos vontade de avançar, de conhecer o futuro e adiantar as coisas, pular as etapas, sem perceber que assim estamos indo mais rápido em direção ao final. Mas seguimos mesmo assim, nunca satisfeitos com o agora, apenas lembrando do que já se passou ou sonhando com o que um dia vai acontecer. De um jeito meio torto, Benjamin Button nos ensina a viver cada dia, encarar cada próximo minuto como algo que não estava necessariamente previsto, uma sorte, uma nova oportunidade.

O tempo é matéria-prima freqüente das divagações dos artistas e filósofos. Uma das belezas do cinema brasileiro recente, o filme Lavoura Arcaica, que o diretor Luiz Fernando Carvalho adaptou da obra de Raduan Nassar, toma o tempo como a égide da espera e do ciclo natural, do vai-e-vem infinito. O tempo que aumenta e dimensiona os sentimentos, o tempo que dá e que toma. No livro, o escritor paulista diz: “O tempo, o tempo é versátil, o tempo faz diabruras, o tempo brincava comigo, o tempo se espreguiçava provocadoramente, era um tempo só de esperas”.

Nessa de pensar sobre o tempo, também me lembrei de uma frase de impacto que muitas pessoas usam no perfil do orkut, e que na internet está creditada ao poeta Jonh Lennon. “A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”. Um futuro que como bem disse Toquinho, não marcou horário, e quem sabe pode demorar de propósito, só para dar um tempinho extra para você poder curtir o momento, agora. Então, Carpe diem! Ou vai continuar esperando?

3 comentários:

Lorena Dana disse...

Eita empolgação pro bendito Carpe Diem! Acho que O Curioso Caso de Benjamin Button me fez pensar sobre a importância da construção do homem com base no tempo, mas nem por isso eu sairia por aí fazendo todas as minhas vontades XD
bjo, monitor
(pagamento sai amanhã)
=***

Diego Mascate disse...

uai, Tuliêra...
aparece lá na fiction amanhã e no centro de convenções dia 28 (mallu). pois serão shows com ênfases distintas.

ou. c ainda tem a filmagem de "Fraldas", que c falou que tinha?
tô na fissura de ver esse O Curioso Caso de Benjamin Button...

abraço!

MarceLa Guimarães. disse...

O que é o tempo?
Mil e uma definições, mas o q eu posso dizer é que começo a ter medo dele. hahahaha
bjoss,

"tempo, tempo, tempo mano velho"

"o tempo é mercúrio-cromo
e o tempo é tudo que somos."

"não temos todo tempo do mundo
e esse mundo já faz muito tempo."