sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Aos companheiros de viagem

Viajar é um dos grandes prazeres da vida. Conhecer um lugar diferente do cenário do seu cotidiano; conversar com pessoas com as quais provavelmente você nunca mais vai falar outra vez; observar costumes curiosos e tradições peculiares... Sem dúvida, viajar enriquece seu caminho e transforma seu ponto de vista. Uma viagem bem aproveitada é capaz de modificar a sua vida e te fazer uma pessoa melhor.

Muito disso acontece por causa dos seus companheiros de viagem, dos amigos que passa a conhecer melhor quando vocês estão a centenas de quilômetros de casa. E você enxerga nos seus parceiros as mesmas reações e surpresas da descoberta de um mundo novo, de um lugar estranho onde apenas vocês compartilham de uma mesma origem e de uma mesma cultura.

Aos meus companheiros de viagem, às pessoas que embarcaram comigo numa excursão ao mesmo tempo introspectiva e aberta, deixo aqui meu sentimento de saudade daqueles dias num lugar quente da porra, ironicamente batizado de Caixa d'Água, onde podíamos nos medicar na Farmácia dos Remédios e comer pão com ovo na padaria do Pau Miúdo. Muito obrigado por terem me acompanhado na inesquecível viagem por esse país chamado Bahia, dentro desse grande universo chamado Brasil.

Por fim, um conselho (ouvi esses dias no rádio): você ainda não foi à Bahia? Pois então vá!

Registro soteropolitano

Salvador é a metrópole que sintetiza os contrates da América Latina. De um lado, a orla circulada de beleza, as praias abarrotadas de calor e os hotéis de luxo que esperam os turistas ansiosos por uma temporada tipicamente tropical. Do outro, o aspecto B da cidade, os becos tortuosos, as ladeiras de difícil percurso e os sobradinhos coloridos, amontoados uns sobre os outros numa mágica que desafia a gravidade e a engenharia. É uma cidade única, que captura e reflete a alma do povo brasileiro como nenhuma outra deste imenso país.

A Bahia é a História que grita em cada gueto. Começa no mar do indo e vindo infinito, mas não se sabe ao certo aonde termina. O passado, do Novo Mundo, e o presente, sujo e desgastado pela maresia, se espalham de norte a sul do Brasil e há um pouco de Bahia em tudo o que somos e em tudo o que desejamos ser. Lá, todos se sentem em casa, de alguma forma refrescados pelo calor de um povo que não tem vergonha de distribuir o orgulho tupiniquim em sorrisos e simpatia.

Viajar à Bahia é a oportunidade de respirar uma cultura rica e guerreira. Afinal, é a terra de Caetano Veloso, Glauber Rocha, Raul Seixas, Jorge Amado, João Gilberto, Dorival Caymmi, dentre tantos outros nomes que contribuíram essencialmente para a construção de algo maior a que chamamos cultura brasileira. Para mim, o valor de viajar pelo Brasil é ter a chance de se descobrir mais e mais impregnado de uma vontade incontrolável de dizer aos quatro cantos do mundo como é maravilhoso viver nesse lugar. Definitivamente, o molho da baiana melhorou meu prato.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

the road waits me

Queridos amigos, com esse belíssimo poema de Sylvia Plath o blog entra em recesso até o mês que vem... Quinta-feira estou embarcando pra Salvador, quem sabe pra experimentar a poesia na prática! A estrada, viajar com os amigos, os sabores de um lugar desconhecido, pessoas que vou conhecer e que nunca vão sair da minha memória... acho que essa viagem promete! Quando voltar, terei muita história pra contar! Então, até lá!

CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA
Sylvia Plath

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para
a insanidade.

(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo
do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

lost in space

O jorro de sangue é poesia,
Não há como estancá-lo

Sylvia Plath


Fiz no banheiro, deixando uma trilha nada econômica de sangue, porque não consegui cortar os pulsos definitivamente. Afinal, não se ensinam manuais de suicídio na escola.

Eu não sou uma mente perturbada, apenas o ar está um pouco carregado além da conta. Você já notou como faz sentido o canto dos pássaros e o barulho dos carros nas primeiras horas de céu azul?


É uma sinfonia. Da agonia do dia que acaba de nascer. Natimorto.


Tenho passado assim os meus minutos, à procura de algum livro ou filme que me satisfaça ou de alguma idéia que me alimente. Morrer não dói. Viver não dói. Pensar é a dor maior.


At the end of the day, nada é pra sempre e vice-versa.


p.s. não se preocupem, eu não tentei me matar. são tudo ficções.

1min46s

Os olhos se enganam, o tato se confunde, as palavras se esgotam. Ele sente intensamente o atrito dos pêlos finos de seu braço nos seios volumosos e firmes dela; os dois corpos inteiramente molhados de calor, desesperados por algum sinal de chuva que refresque por antecedência.

Aquela cama poderia abrigar todos os sentimentos do mundo, mas egoístas eles a mantêm somente para si. Ela só consegue gritar ruídos em alguma língua desconhecida, mas a falta de tradução não é problema para ele.


Um minuto e 46 segundos depois, no meio de todo o cheiro de gozo fresco, eles param um no outro, para enfim, diante da ausência de qualquer um dos sentidos, entender o significado de morrer de amor.

domingo, 4 de janeiro de 2009

XIII

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

insônia


É só chuva o que cai do céu, por mais que acordado esperasse ver cair milagres.

O passado está logo ali, à espera dos sapos e mosquitos que habitam o pântano. escuro triste e calado. como se calam os meninos arteiros pegos de surpresa nalguma travessura. como se afastam os lábios molhados durante um beijo interrompido. como se a chave certa não conseguisse abrir a porta pela qual queremos entrar.

Sem perceber, somos convidados a nos retirar, mas não conseguem apagar esse gosto, e é inútil tentar destruir aquelas imagens. resta a vontade de dar o troco, e o queremos furioso e impiedoso, com a força daqueles que driblam o próprio destino, preparados para rir dos profetas equivocados, ansiosos pelo próximo orgasmo.

Eu escrevo como quem toma um sorvete, e espera chegar ao final sem lambuzar as mãos.