Minha afilhada reclamou que eu nunca respondo os memes que ela me envia... Mas dessa vez pensei na lista que ela publicou no blog e decidi fazer algo parecido. 2008 foi um ano mara, acho que merece algum registro. Então vamos lá:
1. stress, aspirinas e urubus – com certeza a experiência de ver o festival Matéria-Prima dando certo (depois de muita correria e canseira) foi uma coisa mágica em 2008, e pensar que tudo aquilo surgiu de uma conversa despretensiosa entre amigos...
2. on the radio – esse ano tive que me despedir do lugar que me fez gostar do que eu gosto de fazer (a rádio universitária), mas antes me diverti e me estressei bastante na monitoria do Jornal das Seis, e acima de tudo conheci pessoas fantásticas com as quais seria maravilhoso trabalhar o resto da vida, e principalmente fiz grandes amigos lá!
3. o álcool aproxima as pessoas – foi um dos anos mais boêmios da minha vida, certamente! Mas mais do que me embebedar em mesas de vários (e bota vários nisso) bares de Goiânia, o importante foi conhecer pessoas incríveis e travar conversas empolgantes que com certeza não existiriam entre pessoas sóbrias...
4. uma mudança em casa – foi uma época de aproximação com a minha família... é claro que ainda existem muitas diferenças que precisam ser respeitadas e compreendidas, mas definitivamente descobri (e acho que já descobri tarde – mas antes tarde do que nunca) que não consigo viver sem eles!
5. tudo na vida é uma metáfora? – nem o mestre Pablo Neruda conseguiu responder essa pergunta imediatamente... foi um ano de muita poesia na minha vida e utilizei muito desse combustível que é capaz de fazer os sonhos se tornarem inesgotáveis e as sensações, latentes. Foram boas horas de leituras de Rimbaud, Manuel Bandeira, Neruda, Carlos Drummond, Bukowski, Bolaño, T.S. Eliot, Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Manuel de Freitas e Garcia Lorca... já começo a imaginar o que me espera pra 2009!
6. “nothing is gonna change my world” – porque The Beatles é The Beatles, e nunca me canso de escutar!
7. “Era uma coisa sua que ficou em mim (que não tem fim)” – foi muito importante esse ano me reaproximar de alguns antigos amigos que estavam afastados, e descobrir que uma vez que se teve uma amizade sincera, nem o tempo ou a distância conseguem mudar as coisas.
8. 5 perdidos no planalto central – a viagem pra Brasília foi incrível porque é muito bom ver as coisas fugindo dos planos e tomando outro rumo... mara!
9. caninos loucos 2 – participar do segundo Perro Loco também foi outra daquelas experiências que te acrescentam muito... a única coisa paia foi não ter conseguido encher mais a cara (se bem que talvez isso tenha sido bom, ahoehaoehoahoe)
10. elemento surpresa – e é claro, pra finalizar, tem sempre o fator X, aquela coisa que você não sabe definir muito bem o que é, mas que te faz achar cada ano melhor que o outro e te dá vontade de seguir em frente sem desistir nos obstáculos seguintes... e que venha 2009! Feliz ano novo pra todo mundo!
Indico esse meme pra Marcela, pra Cindy, pra Thais e pro Vandré. Então, a gente se fala depois da virada!
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
domingo, 28 de dezembro de 2008
mensagem para o ano novo...
“(...) é isso o que você deve fazer: Amar a terra e o sol e os animais, desdenhar as riquezas, dar esmolas a todos que pedirem, defender os dementes e os loucos, dedicar sua renda e trabalho aos outros, odiar os tiranos, não discutir sobre Deus, ter paciência e indulgência com as pessoas, não tirar o chapéu para o que é conhecido ou o que é desconhecido nem a nenhum homem ou grupo de homens, acompanhar livremente as poderosas pessoas analfabetas e os jovens e as mães de família, ler estas folhas ao ar livre em todas as estações de todos os anos de sua vida, examinar de novo tudo que foi dito na escola ou na igreja ou em qualquer livro, rejeitar tudo que insulte sua própria alma, e sua própria carne será um grande poema e terá a fluência mais rica não só na forma de palavras mas nas linhas silenciosas de seus lábios e rosto e entre os cílios de seus olhos e em toda junta e todo movimento de seu corpo... O poeta não vai gastar tempo com trabalho desnecessário. Ele sabe que o solo está sempre pronto e arado e adubado... outros podem não saber mas ele sabe. Ele vai direto à criação. O maior poeta não moraliza nem dá lições de moral... ele conhece a alma. A alma tem aquele orgulho ilimitado que consiste em jamais reconhecer qualquer lição que não seja a sua. O maior poeta não possui tanto um estilo marcante e é mais um canal de pensamentos e de coisas sem acréscimo nem diminuição, e é o canal livre de si mesmo”
Walt Whitman,
Folhas de Relva
sábado, 20 de dezembro de 2008
Que pescar que nada
“Que pescar que nada
Vou beijar na boca”
Bruno e Marrone
Vou beijar na boca”
Bruno e Marrone
Os dois viviam na região mais sertaneja do maior país do mundo, e sempre era frio. Não foram pagos para se divertir, mas quem gosta de regras? E tudo aquilo foi seguido de um choro meio vomitado, socos na parede, alguma sensação de ser nada em lugar nenhum, apenas uma história apertada no peito, carregada por duas pessoas sempre caladas...
Agora, ele precisava se contentar em jogar, levemente, as bolas de neve na cabeça de sua mulher. Se estivesse com Jack, estariam travando uma verdadeira luta, ambos emaranhados no chão, briga séria. Ele vira a mulher na cama procurando qual lembrança?
E assim viveram por muitos anos, pescando todos os peixes do mundo madrugada adentro, se tocando em pensamento, sempre querendo a segurança e a certeza de que está tudo bem, de que tudo aquilo ficará entre os dois, entre quatro paredes e uma montanha.
Agora, ele precisava se contentar em jogar, levemente, as bolas de neve na cabeça de sua mulher. Se estivesse com Jack, estariam travando uma verdadeira luta, ambos emaranhados no chão, briga séria. Ele vira a mulher na cama procurando qual lembrança?
E assim viveram por muitos anos, pescando todos os peixes do mundo madrugada adentro, se tocando em pensamento, sempre querendo a segurança e a certeza de que está tudo bem, de que tudo aquilo ficará entre os dois, entre quatro paredes e uma montanha.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Both Sides, Now
A poesia de Joni Mitchell consegue tocar a minha pele e confundir os meus sentidos...
Both Sides, Now
by Joni Mitchell
Rows and flows of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons everywhere
I've looked at clouds that way
But now they only block the sun
They rain and snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way
I've looked at clouds from both sides now
From up and down, and still somehow
It's cloud illusions I recall
I really don't know clouds at all
Moons and Junes and Ferris wheels
The dizzy dancing way you feel
As ev'ry fairy tale comes real
I've looked at love that way
But now it's just another show
You leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away
I've looked at love from both sides now
From give and take, and still somehow
It's love's illusions I recall
I really don't know love at all
Tears and fears and feeling proud
To say "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way
But now old friends are acting strange
They shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day
I've looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
I've looked at life from both sides now
From up and down, and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
Both Sides, Now
by Joni Mitchell
Rows and flows of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons everywhere
I've looked at clouds that way
But now they only block the sun
They rain and snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way
I've looked at clouds from both sides now
From up and down, and still somehow
It's cloud illusions I recall
I really don't know clouds at all
Moons and Junes and Ferris wheels
The dizzy dancing way you feel
As ev'ry fairy tale comes real
I've looked at love that way
But now it's just another show
You leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away
I've looked at love from both sides now
From give and take, and still somehow
It's love's illusions I recall
I really don't know love at all
Tears and fears and feeling proud
To say "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way
But now old friends are acting strange
They shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day
I've looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
I've looked at life from both sides now
From up and down, and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
sábado, 6 de dezembro de 2008
“Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa além de uma licença poética. Naquela tarde, de regresso para casa outra vez, sem o gato e sem ela, comprovei que não apenas era possível, mas que eu mesmo, velho e sem ninguém, estava morrendo de amor. E também percebi que era válida a verdade contrária: não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego. Havia perdido mais de quinze anos tratando de traduzir os cantos de Leopardi, e só naquela tarde os senti a fundo: Ai de mim, se for amor, como atormenta.”
Gabriel García Márquez,
Memoria de mis putas tristes
Memoria de mis putas tristes
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Não me lembro.
Já fazia um tempo que eu não andava de bicicleta por aí, mas como a sensação de descer a avenida Anhanguera embalado pelo vento ainda é inigualável! E de repente você se sente como um simples pedaço de história que experimenta a brisa passar pelos cabelos e não consegue parar, é como se o freio quebrasse e nada nem ninguém conseguisse fazer você andar mais devagar.
A chuva já parou. Mas nunca os primeiros erros vão parar de acontecer, a todo momento, e a sensação do vento correndo na direção contrária é algo meio que um relance, um breve sussurro que de tão baixo vai sem nem deixar marcas. Mas tudo na vida é uma cicatriz de henna, que parece permanente e vai sumindo com o tempo. Já não tenho dúvida: preciso manter todos esses fantasmas aqui dentro de mim, pra ter companhia quando sozinho.
A chuva já parou. Mas nunca os primeiros erros vão parar de acontecer, a todo momento, e a sensação do vento correndo na direção contrária é algo meio que um relance, um breve sussurro que de tão baixo vai sem nem deixar marcas. Mas tudo na vida é uma cicatriz de henna, que parece permanente e vai sumindo com o tempo. Já não tenho dúvida: preciso manter todos esses fantasmas aqui dentro de mim, pra ter companhia quando sozinho.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
VM
Em algum lugar
Deve existir
Eu sei que deve existir
Algum lugar onde o amor
Possa viver a sua vida em paz
E esquecido de que existe o amor
Ser feliz, ser feliz, bem feliz
Deve existir
Eu sei que deve existir
Algum lugar onde o amor
Possa viver a sua vida em paz
E esquecido de que existe o amor
Ser feliz, ser feliz, bem feliz
Vinicius de Moraes, Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Saudade, palavra simples
Fico feliz por pensar em português
porque consigo achar mais facilmente
uma palavra para esse sentimento difícil.
Tenho saudade do seu abraço
e do som do seu sorriso
Tenho saudade da tua pele morena
e dos teus olhos bonitos
Tenho saudade dos seus bilhetes
e de ouvir seus sonhos de menina
E principalmente,
tenho saudade das conversas que ainda teremos juntos
e por isso me sinto feliz.
porque consigo achar mais facilmente
uma palavra para esse sentimento difícil.
Tenho saudade do seu abraço
e do som do seu sorriso
Tenho saudade da tua pele morena
e dos teus olhos bonitos
Tenho saudade dos seus bilhetes
e de ouvir seus sonhos de menina
E principalmente,
tenho saudade das conversas que ainda teremos juntos
e por isso me sinto feliz.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Uma fronteira a menos
Participar do festival Perro Loco foi uma das experiências mais incríveis que tive nos últimos tempos... Simplesmente porque atravessei um bocado de fronteiras que existiam ao meu redor. E não só fronteiras que remetem ao tema do festival – as distâncias físicas e culturais entre os países da América Latina.
As fronteiras que consegui derrubar são as fronteiras da falta de diálogo ou tempo, de participar de um projeto durante um ano todo com um monte de pessoas que eu nunca havia sequer trocado três frases inteiras... Durante o festival, com o tempo a mais – que é quando quantidade de tempo é mais importante que qualidade de tempo – descobri pessoas maravilhosas que estavam ali antes, o tempo todo, mas que estavam separadas de mim por uma grande e invisível barreira.
Tudo o que aconteceu no festival me deixou um pouquinho mais animado para o que me espera pela frente – se for pra trabalhar rodeado de pessoas legais, melhor ainda! E eu continuo com essa mania de querer tempo pra conversar com os outros, de agendar conversaciones. O Diego é minha próxima vítima. Mas ele tá enrolando... Vamo lá, cara, não tem nada melhor que ficar jogando conversa fora na praça Cívica...
PS.: uma das melhores trocas de idéias que tive nesse Perro Loco foi com a Patrícia, da Argentina... Falando um portunhol bem improvisado, ou quase um dialeto próprio, descobri que lá eles curtem muito uma música que desconhecem ser uma versão de um tal saudoso cantor brasileiro... Taí o vídeo!
As fronteiras que consegui derrubar são as fronteiras da falta de diálogo ou tempo, de participar de um projeto durante um ano todo com um monte de pessoas que eu nunca havia sequer trocado três frases inteiras... Durante o festival, com o tempo a mais – que é quando quantidade de tempo é mais importante que qualidade de tempo – descobri pessoas maravilhosas que estavam ali antes, o tempo todo, mas que estavam separadas de mim por uma grande e invisível barreira.
Tudo o que aconteceu no festival me deixou um pouquinho mais animado para o que me espera pela frente – se for pra trabalhar rodeado de pessoas legais, melhor ainda! E eu continuo com essa mania de querer tempo pra conversar com os outros, de agendar conversaciones. O Diego é minha próxima vítima. Mas ele tá enrolando... Vamo lá, cara, não tem nada melhor que ficar jogando conversa fora na praça Cívica...
PS.: uma das melhores trocas de idéias que tive nesse Perro Loco foi com a Patrícia, da Argentina... Falando um portunhol bem improvisado, ou quase um dialeto próprio, descobri que lá eles curtem muito uma música que desconhecem ser uma versão de um tal saudoso cantor brasileiro... Taí o vídeo!
domingo, 9 de novembro de 2008
A trilha louca do poeta
O amor é o prazer mais egoísta. Ela me diz para não pensar em como as coisas poderiam ser, mas em como todas as coisas foram e serão. Este é seu conselho, de tudo ainda restou você, nostálgico de um passado que não aconteceu. Nada jamais existiu senão a crença de um sentimento jogado fora. Toda aquela dor era uma leitura errada da verdade.
Vai doer mesmo. Todas as coisas serão chatas, tudo vai soltar um cheiro forte de merda ou vômito. Essa dor é suja, é quase mortal num buraco qualquer. Você agora ouve o mundo com uns ruídos vermelhos que incomodam e sangram, mas isso também é necessário. Todo o sofrimento do mundo ainda é pouco. Precisa-se de mais um tanto, para acabar de diluir tudo num choro raso baixinho que se escuta por aí.
Chegará um dia em que você simplesmente não sentirá mais isso e quase sem perceber vai tomar o café como costumava fazer antes, como se nada nunca tivesse deslocado a atenção das coisas, como se o mundo inteiro fosse dormir e você acordar. E esse gosto amargo você não vai mais esquecer: café sem açúcar, que quando acaba a gente pensa que nunca existiu.
Vai doer mesmo. Todas as coisas serão chatas, tudo vai soltar um cheiro forte de merda ou vômito. Essa dor é suja, é quase mortal num buraco qualquer. Você agora ouve o mundo com uns ruídos vermelhos que incomodam e sangram, mas isso também é necessário. Todo o sofrimento do mundo ainda é pouco. Precisa-se de mais um tanto, para acabar de diluir tudo num choro raso baixinho que se escuta por aí.
Chegará um dia em que você simplesmente não sentirá mais isso e quase sem perceber vai tomar o café como costumava fazer antes, como se nada nunca tivesse deslocado a atenção das coisas, como se o mundo inteiro fosse dormir e você acordar. E esse gosto amargo você não vai mais esquecer: café sem açúcar, que quando acaba a gente pensa que nunca existiu.
domingo, 2 de novembro de 2008
blindness
“Chegara mesmo ao ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era, afinal, senão a simples ausência da luz, que o que chamamos cegueira era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os intactos por trás do seu véu negro.”
José Saramago, Ensaio sobre a cegueira
Ensaio sobre a Cegueira, o filme, não consegue capturar permanentemente a angústia e o asco presentes a todo o momento no livro de José Saramago. Mas a obra de Fernando Meirelles tem muitas cenas que te deixam com vontade de fechar os olhos e não enxergar mais nada pela frente. Aqui, a cegueira tem uma cor branca, mas assim como no livro, é a sujeira, a barbárie e a guerra que predominam.
A fantasia de Saramago questiona como uma cegueira que se alastra de forma tão rápida e atinge cada vez mais pessoas é capaz de anular, imediatamente, qualquer retrospecto de civilidade e respeito. Um grupo de pessoas que não sabe que alguém entre eles ainda pode ver esquece qualquer moral por causa da luta pela sobrevivência. Mas até que ponto vale a pena sobreviver nesse inferno?
Ensaio sobre a Cegueira desconstrói um ditado popular que até então, antes da imaginação mirabolante de Saramago, parecia fazer todo sentido. “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, depois do livro ou do filme, soa como mentira. No meio de cegos, quem tem um olho se torna um escravo – e pior que isso, enxerga coisas que fazem qualquer um desejar perder a visão.
Por isso mesmo, a personagem de Julianne Moore parece achar que ainda que todas aquelas pessoas recuperem a visão, estarão manchadas para sempre pela nódoa da cegueira ética, porque agiram como se o fato de não ver justificasse qualquer coisa, inclusive se comportar como zumbis sem perspectiva. E ao mesmo tempo, o fato de não ver realmente explica tudo, porque a escuridão é quase como um estado natural do animal humano.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Vai uma estrelinha aí?
Filosofia de carnaval. Tava passeando no Martim Cererê no último sábado, enchendo a cara, observando as pessoas, enchendo a cara, ouvindo música, fumando passivamente, enchendo a cara… Eu não sou muito bom de conta (…). Além disso, a bebida contribui decisivamente para algumas confusões mentais, mas vamos lá. Acho que uns 70% das pessoas que estavam ali usavam All Star. Sim, esse é um post sobre o All Star, aquele tênis pop vendido em qualquer loja de calçados por uns 70 reais.
Quem já viu um comercial na tv ou anúncio de jornal do All Star? Putz, ninguém? Pois é. E o tênis nem tem um esquema anatômico de conforto igual aqueles dos comerciais do Luciano Huck... Deve usar a mesma tecnologia há uns 50 anos (não que isso faça diferença)... Então, motherfuck!, se não tem propaganda e não tem essas tecnologias chinfrins dos Olympikus da vida, o que explica a sobrevivência dessa moda quase secular no Brasil e nos sete cantos do planeta???
Identificação de uma tribo poderia ser a resposta. Ou não, se você observar que desde punks a patricinhas usam All Star. Até o reitor da universidade da novela das nove* da Globo!!! All Star é o negócio do século. O gênio que inventou esse modelo era um jogador de basquete, Chuck Taylor. Ele criou o ícone mais pop art da história, deixando no chinelo (ou no tênis, haeohaeohao) qualquer obra desmiolada de Andy Warhol ou coisa parecida.
Chuck Taylor é aquele cara da etiquetinha que vem na caixa de seu recém-adquirido Converse All Star. Ele é o responsável pela sensação mais inexplicável de todas, que é como um tênis simples e tão comum pode dar tanto prazer a quem o usa. Na manhã do último sábado, comprei mais um All Star. Daquele novo novo-modelo. Novo entre aspas, hehehe... Mas e a satisfação? Nenhum Nike ou Adidas do mundo pode oferecer igual…
Estou me recordando agora de uma cena de Eu, Robô, quando Will Smith, em 2035, abre uma caixa antiga do tênis e sai humilhando todos os cidadãos futuristas e caretas que não tinham All Star! O filme poderia ter provocado outra paranóia em mim: no futuro não teremos All Star? Teremos que nos tornar contrabandistas??? Mas do jeito que as coisas andam, não sei, não… Já até imagino o Martim Cererê de 2035, cheio de estrelinhas por todos os lados...
*acho que na época que escrevi esse texto, a novela era Duas caras e o reitor gay da novela era interpretado pelo José Wilker, e não lembro direito, mas parece que usava uns All Star roxos ou rosas, haoehaoehoao
P.S 1: a foto do post é uma cena do filme Maria Antonieta, quando a Sofia Coppola coloca um All Star no cenário do filme que se passa no século 18... cool!!!
P.S 2: publiquei esse texto num dos meus incontáveis blogs falecidos, e achei massa republicá-lo, com algumas alterações, depois que gansei, no orkut do Péricles, que tinha uma repórter querendo fazer uma matéria sobre o uso do All Star e realmente esse é um tema massa o/
Quem já viu um comercial na tv ou anúncio de jornal do All Star? Putz, ninguém? Pois é. E o tênis nem tem um esquema anatômico de conforto igual aqueles dos comerciais do Luciano Huck... Deve usar a mesma tecnologia há uns 50 anos (não que isso faça diferença)... Então, motherfuck!, se não tem propaganda e não tem essas tecnologias chinfrins dos Olympikus da vida, o que explica a sobrevivência dessa moda quase secular no Brasil e nos sete cantos do planeta???
Identificação de uma tribo poderia ser a resposta. Ou não, se você observar que desde punks a patricinhas usam All Star. Até o reitor da universidade da novela das nove* da Globo!!! All Star é o negócio do século. O gênio que inventou esse modelo era um jogador de basquete, Chuck Taylor. Ele criou o ícone mais pop art da história, deixando no chinelo (ou no tênis, haeohaeohao) qualquer obra desmiolada de Andy Warhol ou coisa parecida.
Chuck Taylor é aquele cara da etiquetinha que vem na caixa de seu recém-adquirido Converse All Star. Ele é o responsável pela sensação mais inexplicável de todas, que é como um tênis simples e tão comum pode dar tanto prazer a quem o usa. Na manhã do último sábado, comprei mais um All Star. Daquele novo novo-modelo. Novo entre aspas, hehehe... Mas e a satisfação? Nenhum Nike ou Adidas do mundo pode oferecer igual…
Estou me recordando agora de uma cena de Eu, Robô, quando Will Smith, em 2035, abre uma caixa antiga do tênis e sai humilhando todos os cidadãos futuristas e caretas que não tinham All Star! O filme poderia ter provocado outra paranóia em mim: no futuro não teremos All Star? Teremos que nos tornar contrabandistas??? Mas do jeito que as coisas andam, não sei, não… Já até imagino o Martim Cererê de 2035, cheio de estrelinhas por todos os lados...
*acho que na época que escrevi esse texto, a novela era Duas caras e o reitor gay da novela era interpretado pelo José Wilker, e não lembro direito, mas parece que usava uns All Star roxos ou rosas, haoehaoehoao
P.S 1: a foto do post é uma cena do filme Maria Antonieta, quando a Sofia Coppola coloca um All Star no cenário do filme que se passa no século 18... cool!!!
P.S 2: publiquei esse texto num dos meus incontáveis blogs falecidos, e achei massa republicá-lo, com algumas alterações, depois que gansei, no orkut do Péricles, que tinha uma repórter querendo fazer uma matéria sobre o uso do All Star e realmente esse é um tema massa o/
domingo, 19 de outubro de 2008
Sounds of the past
Dias atrás, abri a caixa de discos antigos e o efeito daquelas músicas do passado foi um tanto indolor e, por algum tempo, anestésico. Eu estava com preguiça de pensar o passado, de buscar todas essas lembranças que continuam vivas, mas estrategicamente arquivadas na mente. Só que ouvir a mesma música de quando tinha 12, 13 anos não é um acontecimento tão insignificante assim... A verdade é que nunca consigo aceitar bem todas as mudanças e algumas vezes desejo ter corpo e sentimentos de criança novamente, sem todas as descobertas e exercícios dramáticos do crescimento humano, sem as novas interpretações para as letras que antes eram só melodias, e mais um monte de coisas que antes não queriam dizer nada e agora talvez signifiquem menos ainda. Na maioria das vezes, tudo isso termina com uma pergunta meio deslocada. Quanto tempo é uma vida inteira? Daí eu me lembro que você se diz imortal com tanta propriedade que eu acabo acreditando nessa resposta. Going back to good...
juno
Curti Juno e seu estilo “junkie com responsabilidade”. É legal como o filme trata de assuntos sérios e coisas complexas quase num tom de brincadeira juvenil... Talvez devêssemos encarar todos os problemas da vida desse jeito, ao som de Belle & Sebastian e conversas! Tudo se resolve mais fácil, tão simples* como um parto natural, onde a dor é ao mesmo tempo maior e mais efêmera. O filme também me lembrou a questão do aborto, que aliás, mesmo após horas e horas de discussões acaloradas com a Marcela, ainda não tenho um posicionamento real. Talvez seja como ela mesma diz – só sendo mulher pra saber...
Mas o fato aqui é que os bebês têm unhas e foi melhor esse da história ter mesmo nascido... Ele mudou a vida de todos os personagens, o que já é muito mais vantajoso que jogar fora e fingir que nada aconteceu. Talvez a vida coloque obstáculos na estrada pra que a gente simplesmente compreenda melhor depois que a chuva passar (é, tô ouvindo I can see clearly now, hoaehoaheo). Fugir é o caminho mais curto e fácil, mas nem sempre o melhor.
*sei que as mulheres podem protestar pelo uso da palavra “simples”, imagino que qualquer parto não é uma coisa lá muito fácil, mas o normal me parece ser mais “simples” que algo que envolva cirurgia e bisturis ;)
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
efêmero
sábado, 4 de outubro de 2008
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Crise
Sinto desmanchar o nosso poema em sua boca
A cada palavra que ouço,
vejo o sabor do seu corpo escorrer
por minhas mãos sujas
Estou vivendo a crise do amor.
O cheiro que você deixa me mantém acordado
e os gemidos da sua alma
não são tantos mais que o meu desejo desesperado.
Estou vivendo uma crise de amor.
A cada palavra que ouço,
vejo o sabor do seu corpo escorrer
por minhas mãos sujas
Estou vivendo a crise do amor.
O cheiro que você deixa me mantém acordado
e os gemidos da sua alma
não são tantos mais que o meu desejo desesperado.
Estou vivendo uma crise de amor.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
evening (ao entardecer)
Evening é um filme cruel: mostra Ann Grant (Claire Danes, linda) vivendo a plenitude de uma juventude promissora e, anos depois, a prorrogação de uma morte anunciada (nessa fase, interpretada por Vanessa Redgrave – o elenco é cheio de grandes nomes). Os cortes temporais revelam uma senhora doente em estado terminal arrependida pela forma como conduziu sua vida. Ela se lamenta por não ter ido velejar, por não ter enfrentado tudo e todos, por não ter se dedicado ao verdadeiro amor, e assim, com movimentos fracos e respiração difícil, descobre que ninguém tem todo o tempo do mundo.
O filme é cruel justamente por mostrar que só temos uma chance de dizer as coisas que queremos dizer, e se arrepender anos depois é um caminho sem volta. A mensagem é assim: sonhe, viaje, converse, ame, escreva, trabalhe, divirta-se, right now, porque no fim da vida fazer tudo isso será um esforço ambicioso demais. Mesmo aparecendo pouco, Meryl Streep acrescenta muito ao filme, e sua filha, Mamie Gummer, prova ser tão talentosa quanto a mãe, interpretando a personagem de Streep quando jovem. Fica a impressão de que o peso do passado, misturado ao sentimento de não ter traçado os caminhos certos, deixa cicatrizes incuráveis, e talvez beber seja a última esperança.
Gurupi’s ideas
domingo, 28 de setembro de 2008
town called malice
Hoje mal conseguiu dormir, porque o sangue percorria com dificuldade as veias da cabeça e aquele barulho todo era insuportável. O vinho acabou muito antes da hora e todas as coisas que aconteceram a seguir foram sorrisos abortados e gozos precoces. Não havia luz nem a resposta de ninguém. Era tudo o encontro cotidiano dele consigo mesmo e com os poetas do passado, todos vagando moribundos pela metrópole adoentada, experimentando a liberdade das palavras em pequenas doses etílicas.
Antes, viravam as garrafas com pressa, mesmo com todos os relógios estragados pelo tempo. As cores chegavam com mais rigidez e envolviam os olhos dos vagabundos numa espuma tecnicolor. Era o grande revival, uma verdadeira competição de desgraças. O vencedor estava tonto, não conseguia se equilibrar no pódio. A pressão venosa do álcool fez com que todos os sonhos caíssem. Esparramados pelo chão, ninguém conseguiria recuperá-los.
Antes, viravam as garrafas com pressa, mesmo com todos os relógios estragados pelo tempo. As cores chegavam com mais rigidez e envolviam os olhos dos vagabundos numa espuma tecnicolor. Era o grande revival, uma verdadeira competição de desgraças. O vencedor estava tonto, não conseguia se equilibrar no pódio. A pressão venosa do álcool fez com que todos os sonhos caíssem. Esparramados pelo chão, ninguém conseguiria recuperá-los.
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